1 de jan. de 2011

Casamento Gay - Traição II - Aniversário

Tudo bem que eu terminei o casamento, mas ainda não está resolvido isso em meu coração. Amo o Leo, isso é fato. Desde que terminamos em julho, me propus esquecê-lo, mas a vida começou a trazer de volta os elementos que eu queria muito esquecer.

Aos poucos fui conhecendo pessoas com quem ele teve relações. E isso ao acaso. O último me contou que esteve com ele desde julho, contudo só havia acabado com ele no final de julho. No início do ano é o aniversário dele, este ano chamei amigos e preparei o jantar, mas durante a festa (ele morava comigo), ele avisou que precisaria sair, pois combinará de passar o aniversário com a Mãe. A situação foi muito estranha e desconfortável. Fiquei sem ação e ele se foi.

Quando voltou no outro dia, eu o esperava com um bolo de aniversário, velinhas e chapeuzinho. Ele simplesmente não deu a mínima para o bolo ou qualquer coisa. Conversamos um pouco e ele trancou-se no quarto. Tentei conversa, mas ele permaneceu na defensiva e disse que não estava feliz comigo. Que talvez um tempo seria importante.


 
Segundo ele, vivíamos em tempos diferentes, em momentos que não eram os mesmos.

Neste dia comecei a pensar em realmente terminar. Foram os meses mais difíceis dos últimos anos, pois tinha de terminar com alguém que eu amava. Pensei muito e de tempo em tempo perguntava como ele estava e a resposta era sempre a mesma. Ele não estava feliz.

Confesso que não sabia que ele poderia estar com outra pessoa, mas a vida começava a dar pistas de uma possível traição.

3 comentários:

  1. Acabei de inaugurar um Blog! Nas pesquisas de assuntos aos quais postar(traição no relacionamento gay), acabei encontrando o tema em um de seus posts com frase: "Segundo ele, vivíamos em tempos diferentes, em momentos que não eram os mesmos.".

    Permita-me.Lembrou-me uma passagem do "Sonho de Einstein", uns dos meus livros prediletos. Se você já não o conhece, talvez o curta!

    O post é um pouco longo mas vale a pena ser lido. O interessante é que o texto nos situa a qual tempo pertencemos, e o fabuloso é que apesar de sermos uma mistura dos dois, ainda assim, pertencemos apenas a um.

    Espero que já tenha se recuperado, ou até mesmo reatado com quem você chama de Leo.

    Abs.

    GAHH

    Ps. Posto o texto no próximo post.

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  2. Trecho transcrito do livro: Sonhos de Einstein de Alan Lightman

    "Neste mundo, existem dois tempos. Existe o tempo mecânico e o tempo corporal. O primeiro é tão rígido e metálico quanto um imenso pêndulo de ferro que balança para lá e para cá, para lá e para cá, para lá e para cá. O segundo se contorce e remexe como um enchova na baía. O primeiro não se desvia é predeterminado. O segundo toma decisões à medida que avança.

    Muitos não acreditam que o tempo mecânico exista. Quando passam diante do grande relógio na Kramgasse, não vêem; tampouco escutam suas badaladas quando estão despachando pacotes na Postgasse ou caminhando entre as flores na Rosengarten. Usam relógios de pulso mas apenas como ornamentos ou como cortesia para com aqueles que acreditam ser instrumentos de medição de tempo um bom presente. Em suas casas não tem relógios. No lugar deles, ouvem a batida de seus corações. Eles sentem os ritmos de seus humores e desejos. Essas pessoas comem quando tem fome, vão para o trabalho, na chapelaria ou no laboratório, na hora em que despertam do seu sono e fazem amor a qualquer hora do dia. Sabem que o tempo se movimenta espasmodicamente. Sabem que o tempo se arrasta para frente com um peso nas costas quando estão levando uma criança às pressas para o hospital ou quando têm que sustentar o olhar de um vizinho que foi vítima de alguma injustiça. E sabem também que o tempo atravessa em disparada seu campo de visão quando estão saboreando uma boa comida com amigos ou sendo elogiados ou quando estão deitadas nos braços de seu amante.

    Por outro lado, há aqueles que pensam que seu corpos não existem. Eles vivem de acordo com o tempo mecânico. Levantam-se às sete da manhã. Almoçam ao meio-dia e jantam as seis. Chegam aos compromissos pontualmente, na hora marcada. Fazem amor entre oito e dez da noite. Trabalham quarenta horas por semana, lêem o jornal de domingo no domingo, jogam xadrez nas terças à noite. Quando seus estômagos reclamam, olham para o relógio para saber se e hora de comer. Quando começam a ficar desatentos em um concerto, olham o relógio acima do palco a fim de ver quanto tempo falta para ir para casa. Sabem que o corpo não é resultado de uma mágica fantástica mas uma coleção de elementos químicos, tecidos e impulsos nervosos. Pensamentos não são mais que uma oscilações elétricas no cérebro. Excitação sexual não passa de um fluxo de elementos químicos para as extremidades de certo nervos. Tristeza nada mais é que um pouco de ácido transfixado no cerebelo. Em resumo, o corpo é uma máquina, sujeito às mesmas leis da eletricidade e da mecânica que um elétron ou um relógio. Portanto, ao falar do corpo deve-se usar a linguagem de física. E, se o corpo fala, é a fala de nada mais que um número de alavancas e forças. O corpo não é uma coisa a que se obedece e sim uma coisa em que se manda.

    Respirando-se o ar noturno ao longo do rio Aare, é possível encontrar evidências dos dois mundos. Um barqueiro calcula a posição de seu barco no escuro contando os segundos em que é levado pelo curso de água. "Um, três metros. Dois, seis metros. Três, nove metros." Sua voz rasga a escuridão com sílabas claras e seguras. Sob um poste de luz na ponte Nydegg, dois irmãos que não se viam fazia um ano bebem e riem. O sino da catedral de St. Vincent bate dez vezes. Em segundos, apagam-se as luzes dos apartamentos perfilados na Schifflaube, numa perfeita resposta mecanizada, como as deduções da geometria de Euclides. Deitados à margem do rio, dois amantes olham preguiçosamente para o céu, despertados de um sono atemporal pelos distantes sinos da igreja, surpresos por perceberem que a noite caiu.

    Onde o dois tempos se encontram, o desespero. Onde os dois tempos se separam, a satisfação. Pois milagrosamente, um advogado, uma enfermeira, uma confeiteiro podem construir um mundo em qualquer um dos tempos, mas não nos dois. Cada tempo é verdadeiro, mas as verdades não são as mesmas."

    Alan Lightman - Sonhos de Einstein

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